Fisioterapeuta explica que a caminhada do bebê começa muito antes dos passos em si
O andar autônomo é um dos marcos mais esperados do desenvolvimento infantil. Ele simboliza a conquista da independência motora e é frequentemente celebrado pelas famílias como um grande passo na jornada de crescimento do bebê. No entanto, o que muitos não sabem é que essa habilidade não acontece de forma isolada: ela é o resultado de uma complexa sequência de aquisições neuromotoras e sensoriais que se iniciam nos primeiros meses de vida.
Pensando nisso, a Fisioterapeuta Tayne Roman, especialista em Desenvolvimento Infantil e Fisio da Lua, explicou e listou algumas etapas importantes para que as mamães e os papais possam entender nesse início do processo do andar do bebê.
Quando o bebê começa a andar?
Primeiramente, Tayne explica que o início da marcha independente costuma ocorrer entre os 12 e 16 meses, embora esse intervalo possa variar ligeiramente conforme as particularidades de cada criança. Do ponto de vista do desenvolvimento motor típico, essa faixa etária é considerada fisiológica e esperada. No entanto, mais importante que a idade cronológica é a sequência de etapas que o bebê percorre até chegar a essa conquista.
O andar é o resultado de um processo, não um ponto isolado
A especialista explica que o desenvolvimento da marcha é um processo gradativo e integrativo, que depende da maturação neurológica, do controle postural, da coordenação motora global, da força muscular e da integração sensorial. Por isso, todas essas competências vão sendo adquiridas progressivamente desde os primeiros meses de vida, através de experiências motoras e sensoriais apropriadas.
Etapas fundamentais que antecedem a marcha:
- Contato visual e manipulação de objetos: o olhar fixo e a coordenação olho-mão são os primeiros indicativos de organização neurológica e integração sensorial.
- Controle cervical (sustentação da cabeça): permite ao bebê explorar o ambiente com segurança e estabilidade.
- Tummy time (posição de bruços): fortalece a musculatura extensora do tronco e do pescoço, preparando para futuras posturas antigravitacionais.
- Sentar com apoio e posteriormente sem apoio: marca o início do controle postural estático.
- Engatinhar: promove o desenvolvimento da coordenação cruzada, da propriocepção e do fortalecimento dos membros superiores e inferiores.
- Permanecer em pé com apoio: permite ao bebê iniciar o desenvolvimento do equilíbrio e da descarga de peso nos membros inferiores.
- Cruzar móveis andando de lado (cruise): etapa intermediária que trabalha a transferência de peso e o alinhamento postural.
Pular ou omitir etapas pode gerar sobrecargas articulares, alterações posturais e atrasos no desenvolvimento global. “Cada uma dessas fases prepara biomecanicamente e neurologicamente o bebê para a próxima.” enfatiza a profissional.
A importância do ambiente para o desenvolvimento motor
Outro fator crucial que a especialista enfatiza é para que a criança percorra todas essas etapas de forma espontânea, é a liberdade de movimento. Isso significa permitir que o bebê explore o ambiente com segurança, sem contenções excessivas (como o uso prolongado de carrinhos, andadores ou cadeiras de descanso). O chão limpo e seguro, com proteção de quinas, tomadas e acesso a brinquedos apropriados, é o melhor lugar para o desenvolvimento motor.
Ambientes restritivos não somente atrasam marcos motores, mas também prejudicam a formação da percepção corporal, a integração sensorial e a construção da autonomia.
Sinais de alerta no desenvolvimento da marcha
Nem todos os bebês seguem um curso de desenvolvimento linear. Por isso, é fundamental que pais e cuidadores estejam atentos a sinais de alerta, que podem indicar a necessidade de avaliação profissional:
- Ausência de tentativa de ficar em pé até os 12 meses
- Dificuldade de engatinhar ou ausência completa da fase de engatinhar
- Pés desabados (valgos ou varos) sem estabilidade
- Falta de descarga de peso adequada nos membros inferiores
- Dificuldade de manter a postura de quatro apoios (posição de gato)
- Tônus muscular alterado (muito flácido ou muito rígido)
- Bebê que evita o apoio plantar completo ou anda nas pontas dos pés constantemente
- Atraso em relação aos marcos anteriores (ex: sentar, rolar, etc.)
A presença de um ou mais desses sinais justifica uma avaliação por fisioterapeutas especializados em neuropediatria ou desenvolvimento infantil. A intervenção precoce é essencial para evitar compensações motoras inadequadas e promover um desenvolvimento harmonioso.
Intervenção fisioterapêutica: quando e por que agir
O acompanhamento com fisioterapeuta especializado deve ser considerado sempre que houver dúvidas sobre a progressão motora do bebê ou quando há fatores de risco conhecidos, como prematuridade, síndromes genéticas, hipotonia ou histórico familiar de atrasos motores.
O andar é, sem dúvida, um dos marcos mais celebrados da primeira infância, mas sua conquista é o resultado de uma trajetória cuidadosamente construída desde os primeiros dias de vida. Valorizar cada fase do desenvolvimento, oferecer liberdade de movimento e estar atento aos sinais de alerta são atitudes essenciais para garantir que o bebê atinja esse marco com segurança, autonomia e equilíbrio motor.
Se você é pai, mãe ou profissional da saúde, lembre-se: cada bebê tem seu tempo, mas nenhum bebê deve caminhar por esse processo sozinho. A observação atenta e o suporte adequado fazem toda a diferença.
Um abraço e até a próxima dica da nossa Turminha! 💜